Já rebosteando neste nosso apático ventilador virtual, a edição de nº 2 da revista digital que mais mete o dedo na ferida e lança Conhecimento, Arte e Cultura pelos ares!
Esta edição não é temática, mas está envolvida até o osso com a emergência política (e tomada de posição) que vem rebosteando nossos dias. É um chamado à indignação, à revolta, e nela todos os gritos, todos os silêncios se encontram.
E como não poderia deixar de ser, meus poemas publicados na seção "Poesia", e a crônica postada abaixo, também fazem coro a este rebulíço político, existencial e ideológico.
A ilustração especial é, do sempre talentoso, Tiago Costa, e os pais da criança, editores e idealizadores, são os amigos Rubens. G. Pesenti e Mercedez Lorenzo.
Folheim aqui. Se puder, baixe em pdf e imprima para ler com calma e profundidade.
Esta edição não é temática, mas está envolvida até o osso com a emergência política (e tomada de posição) que vem rebosteando nossos dias. É um chamado à indignação, à revolta, e nela todos os gritos, todos os silêncios se encontram.
E como não poderia deixar de ser, meus poemas publicados na seção "Poesia", e a crônica postada abaixo, também fazem coro a este rebulíço político, existencial e ideológico.
A ilustração especial é, do sempre talentoso, Tiago Costa, e os pais da criança, editores e idealizadores, são os amigos Rubens. G. Pesenti e Mercedez Lorenzo.
Folheim aqui. Se puder, baixe em pdf e imprima para ler com calma e profundidade.
A CARA DO CARETA
“Vamos pedir piedade:
- Senhor, piedade
para essa gente careta e covarde!”
(Cazuza)
Ah, os Caretas...
Um bom Careta, um Careta nato, não só veste as mesmas roupas dos pais e repete as mesmas trezentas palavras dos avós, Caretice pura é um estado de alma... Ela torce o nariz e vira a cara a qualquer anseio de liberdade, ofende-se com a multiplicidade do sexo e tenta martelar na cabeça dos nossos jovens que as famílias são feitas de papais e mamães e que o papai e a mamãe só fazem papai-e-mamãe, quando muito, para procriar.
A Caretice acha um “baseado” na bolsa do filho e faz um “BICHO-DE-SETE-CABEÇAS”, pior, autoriza o Estado a meter-bronca, meter-pau, descer-a-lenha em quem puxar um, em quem se manifestar em prol de sua legalização ou discussão do tema; e não importa agora se é favelado, preto, branco, bandido ou estudante, ela está tatuada na face mais repressora do sentimento “Capitão Nascimento” que está por aí, pairando no ar.
Ah, a Caretice...
O Careta carrega não mais que cinco provérbios na cabeça, tem decorado três orações (para quando a coisa aperta) e defende com unhas e dentes duas ou três GRANDES VERDADES, e por elas há de morrer, fedendo.
Eu que não tenho talento para Chapeuzinho Vermelho, engracei-me desde cedo com o cabeludo Lobão. Acho que já nasci cansado desta mesma Babaquice ou dessa eterna falta do que falar... Chego até a pensar que o Rock and Roll me salvou da Caretice; mas o rock também errou: a Caretice desconhece limites, classes, tribos, e é em si o dogma do dogma.
O Careta sabe o que quer (está lá nos manuais da vida e nos livros de auto-ajuda). Ele ama uma bula e sempre consegue o seu lugar de destaque. A política está cheia deles: adoram paisagismos e higienização, mas o ser-humano em sua integridade sócio-psico-cultural é a ele o mais estranho bicho novo zelandês, uma vigorosa hidra de quatrocentas mil cabeças.
A Caretice já crucificou gente, queimou gente, incinerou gente, e vem segregando mais e mais gente sob o rótulo da boa saúde, da raça, da condição social ou psíquica; ela é o eixo de de tudo - à sua volta tudo é marginal.
Ah, deusa de assombrosas tetas, o que vai na cara do Careta?
Vai nada!, o Careta não tem cara, é um projeto mal acabado de qualquer forma forjada pelo senso-comum aceitável; e é fato, mais que fato: o Careta não sabe dançar! Jamais vai dançar... Para começar, ele não gosta de música, é estranho à poesia e avesso a qualquer brisa que desoriente o seu único amor, a princesinha dos seus ovos-de-ouro podres - esse Deus Careta e maior que costuma se banhar pelo nome de STATUS QUO.