quarta-feira, 13 de abril de 2011

Letra Envenenada - Edição Abril/2011

Leitores e amigos,

Este é o link para baixar na íntegra a edição de Abril do Jornal "Conteúdo Independente": http://www.4shared.com/dir/RdUoZv0B/JORNAL_CI_N_13.html

Abaixo, duas crônicas minhas publicadas nesta edição, cadernos "Literatura-Letra Envenenada" e "Ponto de Vista", sendo a segunda uma adaptação condensada da que postei neste blog em 28/03/11. Confiram!

"Nova Hora-peão"

            Estou pedindo emprego, Doutor, esmola o senhor guarda para Patroa fazer compra no Shopping. Também não sei se o senhor sabe, mas tem um monte de patrões lá fora precisando de alguém como eu que quer trabalhar - trabalho, Doutor, não esmola.

Não é fácil educar dois filhos, levar a Prêta para jantar no sábado, fazer uma poupança e ter algum para ver o Timão jogar. Economia gorda é ver o bucho dos pequenos crescer...

Se subo de “E” para “D”, de “D” para “C”, se levanta um bilhão ou desce dois no orçamento, se pula dez ou cai cinco conto no Mínimo, se o superávit é secundário, primário, pouco nos importa - primeiramente eu quero o máximo que me for justo, querendo ou não o imposto é pago cada vez que respiro, não é verdade?

Não vou ficar aqui relembrando Palmares nem pedir minha cota, presto um serviço, Doutor, e minha hora-peão é uma fração contabilizada aqui, na unha, e por menos, sinto muito, o Doutor não acha mais quem queira - deve ser isso que estão chamando de “Novo Patamar”, não acha?

Não é preciso ter dólar no colchão nem embromar inglês para entender o real valor do dinheiro. Dinheiro vale nada, Doutor, só serve mesmo para pagar as contas... 

Se conto contigo, tudo bem, se não, pego já meu currículo e ganho mundo, pois, não sei se falei, mas os pequenos andam com muitas atividades na escola nova, e cada uma tem seu preço... Não me olhe assim, se os seus nunca pisaram numa pública, por que os meus vão morrer lá?

 Estado bom é o jeito que eles ficam quando voltam do judô; o menor até já escreve no jornalzinho, diz que vai ser escritor!, e, por falar nisso, tem uma dúzia de livros que preciso ler para melhor saber desse tal espírito humano, demasiado humano, que dizem, e livros são caros, Doutor...

A Prêta também já programou uma viagem; é justo que ao menos o nosso continente agente conheça melhor... Orgulho de ser pobre, tenho não... Impossível curvar a cabeça quem já nadou no fundo do poço, e “esperança”, “autoestima elevada”, para mim, desculpe-me Doutor, é dinheiro no bolso!
(Operários - Tarsila do Amaral)


"100 gols na República das Bananas"

Algo de muito emblemático ocorreu no clássico entre São Paulo e Corinthians deste 27 de março de 2011.

Enquanto no Santos, envolto a empresários, o garoto Ganso já começa a negar futebol e já quer, para ontem!, desfilar no “palco luminoso do 1º Mundo” com o brasão de algum time estrangeiro;

enquanto no mesmo dia a Canarinho, ou “Brasilian Time”, retorna à Inglaterra - “amistosamente” - para engordar o cofre da CBF e receber BANANA arremessada ao seu mais promissor talento em campo – repito BANANA!, essa fruta, não por acaso, escrita da mesma maneira nas duas línguas e peculiar ao cardápio dos MACACOS, como gostam de nos chamar por lá;

enquanto se prega o obscurantismo, a partilha da carne e dos ossos dos nossos craques - cada um com seu quadrado de cota!; 

enquanto o futebol tupiniquim nada nas trevas, às braçadas!, o goleiro Rogério Ceni surge numa tarde ensolarada como um ponto de redentora luz, opera três grandes defesas, desenha uma pintura curva no ar, registra seu centésimo gol pelo único clube que o acolheu e crava seu nome na história, na tradição...

Atuação tão grandiosa quanto a que teve, também não por acaso, no título mundial contra os INGLESES, estes mesmos que também um dia tentaram o tirar daqui... Talvez seja mesmo a hora de decidirmos o que queremos realmente: se dar BANANAS ou levá-las, quietos e silenciosos, na cabeça.

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