sábado, 28 de maio de 2011

“37ª Quinta Poética” na Casa das Rosas”

Meu amigo de “Patuá” Reynaldo Bessa (RN/SP),  Edson Cruz (BA), Elaine Pauvolid (RJ) e Rosane Carneiro (RJ) foram os convidados da 37ª edição da “Quinta Poética” na Casa das Rosas/SP.



O curador do evento, patrocinado pela Secretaria de Estado da Cultura  e “Escrituras Editora”, José Geraldo Neres (http://neres-outrossilencios.blogspot.com/), mais uma vez trouxe muita simpatia, somada, claro, a poesia desses quatro grandes poetas.

(José G. Neres)

Bessa trouxe mais: seu violão, livros, cd´s, humor crítico e voz para a interpretação poético-musical que faz com tanta peculiaridade.

(Reynaldo Bessa)

Parabéns a todos os responsáveis por mais essa edição da “Quinta Poética”, espaço de literatura tão bem-vindo e necessário aos poetas em ação!

Axé a todos,


W. Delarte 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O SURREALISMO BLASFEMO E SAGRADO DE DOIS MURILOS


O Surrealismo na literatura tem como certidão de nascimento o ano de 1924, período em que o francês André Breton assinou seu “Manifesto Surrealista”.
          
Ao contrário do que muitos podem pensar, a idéia de “surrealismo” não se aplica àquilo que “não é real”, acepção mais comumente utilizada, mas sim àquilo que está “sobre (sur) o real” - uma realidade “superior”, o “maravilhoso”, o “super real”, e, por isso, mais “verdadeiro”.

A base do imaginário e fazer surrealista está no surgimento da psicanálise e investigação do “inconsciente” e simbologia dos sonhos  por Sigmund Freud.

Como proposta literária, na poesia, tínhamos então uma linguagem que se propunha “automática” e sem racionalização formal, o “escrever sob o jorro e fluxo do inconsciente”. Obviamente esta didática nunca fora levada realmente a cabo, embora os experimentos tenham sido muitos.
            
Imagens insólitas, o mundo-dos-sonhos, sexualidade e magia, fazem parte do arsenal pictórico do surrealismo, tendo no Brasil essas duas figuras que, ao meu ver, mais simbolizam esse universo já cheio de simbologias: dois “Murilos”, um na prosa outro na poesia.

O poeta Murilo Mendes caminhou sobre uma linha tênue que separava a religiosidade da profanidade. Católico militante, sua “sensual Igreja” e o próprio papel da mulher em sua “cosmologia”, podem ser indícios do que Freud chamaria de “recalque” e “transferência” (?), associação que por si ainda alimenta muitas elucubrações, para não dizer “pano para manga!”,  mas não entraremos nesse mérito.
            
Importante é que se trata de um magnífico poeta, pouco conhecido do vasto público, com um repertório de lindas imagens, por vezes escatológicas, outras sublimes, outras mais profanas ou mesmo blasfemas.
           
Abaixo dois poemas emblemáticos que tratam do “feminino” e do “sagrado”.

(Salvador Dali - I)


“Metade Pássaro”

A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.

A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio,
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Desvia o curso dos sonhos,
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.

(Salvador Dali - II)

“Igreja Mulher”

A igreja toda em curvas avança para mim,
Enlaçando-me com ternura - mas quer me asfixiar.
Com um braço me indica o seio e o paraíso,
Com outro braço me convoca para o inferno.
Ela segura o Livro, ordena e fala:
Suas palavras são chicotadas para mim, rebelde.
Minha preguiça é maior que toda a caridade.
Ela ameaça me vomitar de sua boca,
Respira incenso pelas narinas.
Sete gládios sete pecados mortais transpassam seu coração.
Arranca do coração os sete gládios
E me envolve cantando a queixa que vem do Eterno,
Auxiliada pela voz do órgão, dos sinos e pelo coro dos desconsolados.
Ela me insinua a história de algumas suas grandes filhas
Impuras antes de subirem para os altares.
Aponta-me a mãe de seu Criador, Musa das musas,
Acusando-me porque exaltei acima dela a mutável Berenice.
A igreja toda em curvas
Quer
me incendiar com o fogo dos candelabros.
Não posso sair da igreja nem lutar com ela
Que um dia me absolverá
Na sua ternura totalitária e cruel.

(René Magritte)


O Murilo da prosa, o literal e literariamente “fantástico” Murilo Rubião, também “desconhecido”, dado a sua grandiosidade, foi por toda a vida funcionário público, tímido, acanhado, mas dentro da sua cabeça o “maravilhoso” pairava, crescia e se misturava com o real imediato, burocrático, quase kafkiano, que em suas narrativas criava mundos indubitavelmente “sem saída”, situações insólitas numa linguagem absurdamente clara.

Em seu “Auto Retrato” ,  afirmou ser:

“ (...)  Celibatário e sem crença religiosa. Duas graves lacunas do meu caráter. Alimento, contudo, sólida esperança de me converter ao catolicismo antes que a morte chegue”
           
Estaríamos diante de mais um clássico caso de recalque e sublimação por meio da arte surrealista? De qualquer forma, temos um caso nítido de utilização da arte como refúgio e potência da vida, mesmo que esta impotentemente representada... Lembremos que os surrealistas tinham um binômio particular, “Arte & Vida”, sendo a união e junção dessas duas, talvez, a principal bandeira por eles ostentada.

Separem um tempinho e confiram seu conto mais famoso, esta obra-prima publicada em 1947.


“O Ex-mágico da Taberna Minhota”

Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me;
 porque eu sou desvalido e pobre.
(Salmos. LXXXV, I)

Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.

Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.

Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.

Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.

O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.

Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o conseqüente acréscimo nos lucros, apresentou-me ao empresário do Circo-Parque Andaluz, que, posto a par das minhas habilidades, propôs contratar-me. Antes, porém, aconselhou-o que se prevenisse contra os meus truques, pois ninguém estranharia se me ocorresse a idéia de distribuir ingressos graciosos para os espetáculos.

Contrariando as previsões pessimistas do primeiro patrão, o meu comportamento foi exemplar. As minhas apresentações em público não só empolgaram multidões como deram fabulosos lucros aos donos da companhia.

A platéia, em geral, me recebia com frieza, talvez por não me exibir de casaca e cartola. Mas quando, sem querer, começava a extrair do chapéu coelhos, cobras, lagartos, os assistentes vibravam. Sobretudo no último número, em que eu fazia surgir, por entre os dedos, um jacaré. Em seguida, comprimindo o animal pelas extremidades, transformava-o numa sanfona. E encerrava o espetáculo tocando o Hino Nacional da Cochinchina. Os aplausos estrugiam de todos os lados, sob o meu olhar distante.

O gerente do circo, a me espreitar de longe, danava-se com a minha indiferença pelas palmas da assistência. Notadamente se elas partiam das criancinhas que me iam aplaudir nas matinês de domingo. Por que me emocionar, se não me causavam pena aqueles rostos inocentes, destinados a passar pelos sofrimentos que acompanham o amadurecimento do homem? Muito menos me ocorria odiá-las por terem tudo que ambicionei e não tive: um nascimento e um passado.

Com o crescimento da popularidade a minha vida tornou-se insuportável.

Às vezes, sentado em algum café, a olhar cismativamente o povo desfilando na calçada, arrancava do bolso pombos, gaivotas, maritacas. As pessoas que se encontravam nas imediações, julgando intencional o meu gesto, rompiam em estridentes gargalhadas. Eu olhava melancólico para o chão e resmungava contra o mundo e os pássaros.

Se, distraído, abria as mãos, delas escorregavam esquisitos objetos. A ponto de me surpreender, certa vez, puxando da manga da camisa uma figura, depois outra. Por fim, estava rodeado de figuras estranhas, sem saber que destino lhes dar.

Nada fazia. Olhava para os lados e implorava com os olhos por um socorro que não poderia vir de parte alguma.

Situação cruciante.

Quase sempre, ao tirar o lenço para assoar o nariz, provocava o assombro dos que estavam próximos, sacando um lençol do bolso. Se mexia na gola do paletó, logo aparecia um urubu. Em outras ocasiões, indo amarrar o cordão do sapato, das minhas calças deslizavam cobras. Mulheres e crianças gritavam. Vinham guardas, ajuntavam-se curiosos, um escândalo. Tinha de comparecer à delegacia e ouvir pacientemente da autoridade policial ser proibido soltar serpentes nas vias públicas.


Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.

Também, à noite, em meio a um sono tranqüilo, costumava acordar sobressaltado: era um pássaro ruidoso que batera as asas ao sair do meu ouvido.

Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício.


Urgia encontrar solução para o meu desespero. Pensando bem, concluí que somente a morte poria termo ao meu desconsolo.

Firme no propósito, tirei dos bolsos uma dúzia de leões e, cruzando os braços, aguardei o momento em que seria devorado por eles. Nenhum mal me fizeram. Rodearam-me, farejaram minhas roupas, olharam a paisagem, e se foram.

Na manhã seguinte regressaram e se puseram, acintosos, diante de mim.

— O que desejam, estúpidos animais?! — gritei, indignado.

Sacudiram com tristeza as jubas e imploraram-me que os fizesse desaparecer:

— Este mundo é tremendamente tedioso — concluíram.

Não consegui refrear a raiva. Matei-os todos e me pus a devorá-los. Esperava morrer, vítima de fatal indigestão.

Sofrimento dos sofrimentos! Tive imensa dor de barriga e continuei a viver.

O fracasso da tentativa multiplicou minha frustração. Afastei-me da zona urbana e busquei a serra. Ao alcançar seu ponto mais alto, que dominava escuro abismo, abandonei o corpo ao espaço.

Senti apenas uma leve sensação da vizinhança da morte: logo me vi amparado por um pára-quedas. Com dificuldade, machucando-me nas pedras, sujo e estropiado, consegui regressar à cidade, onde a minha primeira providência foi adquirir uma pistola.

Em casa, estendido na cama, levei a arma ao ouvido. Puxei o gatilho, à espera do estampido, a dor da bala penetrando na minha cabeça.

Não veio o disparo nem a morte: a máuser se transformara num lápis.

Rolei até o chão, soluçando. Eu, que podia criar outros seres, não encontrava meios de libertar-me da existência.


Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário público era suicidar-se aos poucos.

Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado.


1930, ano amargo. Foi mais longo que os posteriores à primeira manifestação que tive da minha existência, ante o espelho da Taberna Minhota.

Não morri, conforme esperava. Maiores foram as minhas aflições, maior o meu desconsolo.

Quando era mágico, pouco lidava com os homens -o palco me distanciava deles. Agora, obrigado a constante contato com meus semelhantes, necessitava compreendê-los, disfarçar a náusea que me causavam.

O pior é que, sendo diminuto meu serviço, via -me na contingência de permanecer à toa horas a fio. E o ócio levou -me à revolta contra a falta de um passado. Por que somente eu, entre todos os que viviam sob os meus olhos, não tinha alguma coisa para recordar? Os meus dias flutuavam confusos, mesclados com pobres recordações, pequeno saldo de três anos de vida.

O amor que me veio por uma funcionária, vizinha de mesa de trabalho, distraiu-me um pouco das minhas inquietações.

Distração momentânea. Cedo retornou o desassossego, debatia-me em incertezas. Como me declarar à minha colega? Se nunca fizera uma declaração de amor e não tivera sequer uma experiência sentimental!

1931 entrou triste, com ameaças de demissões coletivas na Secretaria e a recusa da datilógrafa em me aceitar. Ante o risco de ser demitido, procurei acautelar meus interesses. (Não me importava o emprego. Somente temia ficar longe da mulher que me rejeitara, mas cuja presença me era agora indispensável.)

Fui ao chefe da seção e lhe declarei que não podia ser dispensado, pois, tendo dez anos de casa, adquirira estabilidade no cargo.

Fitou-me por algum tempo em silêncio. Depois, fechando a cara, disse que estava atônito com meu cinismo. Jamais poderia esperar de alguém, com um ano de trabalho, ter a ousadia de afirmar que tinha dez.

Para lhe provar não ser leviana a minha atitude, procurei nos bolsos os documentos que comprovavam a lisura do meu procedimento. Estupefato, deles retirei apenas um papel amarrotado — fragmento de um poema inspirado nos seios da datilógrafa.

Revolvi, ansioso, todos os bolsos e nada encontrei.

Tive que confessar minha derrota. Confiara demais na faculdade de fazer mágicas e ela fora anulada pela burocracia.

Hoje, sem os antigos e miraculosos dons de mago, não consigo abandonar a pior das ocupações humanas. Falta-me o amor da companheira de trabalho, a presença de amigos, o que me obriga a andar por lugares solitários. Sou visto muitas vezes procurando retirar com os dedos, do interior da roupa, qualquer coisa que ninguém enxerga, por mais que atente a vista.

Pensam que estou louco, principalmente quando atiro ao ar essas pequeninas coisas.

Tenho a impressão de que é uma andorinha a se desvencilhar das minhas mãos. Suspiro alto e fundo.

Não me conforta a ilusão. Serve somente para aumentar o arrependimento de não ter criado todo um mundo mágico.

Por instantes, imagino como seria maravilhoso arrancar do corpo lenços vermelhos, azuis, brancos, verdes. Encher a noite com fogos de artifício. Erguer o rosto para o céu e deixar que pelos meus lábios saísse o arco-íris. Um arco-íris que cobrisse a Terra de um extremo a outro. E os aplausos dos homens de cabelos brancos, das meigas criancinhas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"SÍNDROME"


Amigos e leitores,

Estou apoiando uma campanha que pretende dar visibilidade às questões, direitos e reinvidicações dos portadores de "síndrome do pânico", encabeçada por um grande amigo detentor da síndrome e militante da causa.

A ídeia é que seja mobilizado o máximo de pessoas num âmbito nacional, por isso conto com a ajuda de todos.

A campanha "Viver sem Medo" pretende levar esta questão às mídias, produzir vídeos, eventos, passeatas, e inicia-se também com essa pequena contribuição minha, o poema "síndrome" que compus especialmente para a campanha.

Entrem nos links abaixo, vejam o manifesto e assinem a petição pública! Confiram o poema e, o principal, ajudem a divulgar a campanha!

 blog: http://comajudadetodos.blogspot.com/

petição: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoAssinar.aspx?pi=EDe1968


"Síndrome"

O medo roeu a carne e a pele enrugada,
rasgou toda a camisa de força
e a coragem de viver sem roupas.

O medo traçou uma linha de neon vermelha,
iluminou o rosto das trevas,
despertou seres do submundo
e os fincou como estátua pálida no outro lado da linha;

é lá onde a morte com mil olhos
cruza os braços a nos sondar

e esteriliza o passo que jamais ultrapassará
o limite invisível que petrificou meu pés
do lado de cá:

o medo
do medo de ter medo
e morrer
de medo de morrer
não é medo,

é Pânico!


(Medusa de Caravaggio)

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Walner Danziger lança livros no Sarau da Brasa..."


Sete de Maio, noite fresca e gostosa...

Conhaque na mão, cerveja na mesa, tambores rufando e invocando os poetas para mais um sarau "Poesia na Brasa"!



O escritor, dramaturgo e diretor teatral Walner Danziger (http://nasubidadomorro.wordpress.com/o-autor/), autor da peça "E no meio de tudo havia a Folia", trouxe três de seus livros... E, como manda a tradição, abriu o sarau...



(Livros: "Teatro", "Gilete na Mão do Macaco" e "Vênus de Aluguel") 



Poesia, música, dança, rima, ginga, verbo forte, palavra-rajada e, como sempre, muito batuque...











... e no final aquele gostinho de "daqui quinze dias tem mais"!

Força periferia!

Parabéns a toda comunidade, aos artistas, poetas e amigos da Brasilândia por mais um sarau, e  como diz o Manifesto:

"O conhecimento trouxe a reflexão
e a reflexão trouxe a ação,
e agora a revolta está preparada,
e a elite treme"




segunda-feira, 9 de maio de 2011

Letra Envenenada - Edição Maio/2011

Salve amigos e leitores!

Esse é o link para baixar na íntegra a edição de maio do Jornal "Conteúdo Independente":

http://www.4shared.com/document/a7ujT4Vc/JORNAL_CONTEDO_INDEPENDENTE_ED.html


Abaixo o texto publicado na minha coluna "Letra Envenada", com uma novidade, a charge do mano Edê!

Axé a todos e boa leitura!


"Fora de Eixo (ou Molho Especial)"


Na praça da República
evangélicos em êxtase pregam o novo Velho Testamento.
- E o Rei se apossará de seu trono, descendo num jumento celeste!
(mas um terrorista palestino o aguarda silenciosamente, encostado no muro...)

Em Paris
nostálgicos intelectuais saem às ruas reivindicando o impossível.
- E o impossível ecoará por todos os lares, pelos ares!
(mas o que era mesmo o impossível?...)

Uma TV americana
anuncia em Bagdá o mais novo conceito em aparelhos abdominais.
- Entre bombas e rajadas, todos serão mais felizes em tanquinhos bem definidos!
(mas o Sol jamais ousou tocar as mulçumanas em partes tão intimas...)

Ainda em Bagdá
um descendente direto de Maomé unifica curdos, xiitas e sunitas.
- E a sonhada democracia fará toda a nação mais soberana!
(mas algo no mar, apontado às suas cabeças,
sempre os convencerão de que o candidato republicano é a melhor opção...)

Em etê-portos no Norte do país
criaturas verdes revelam a boa nova e ofertam a salvação.

Seu Tranca-ruas baixa na Casa Branca
e exige um marafo, duas galinhas e um padê pela reeleição.

“My senhores, vejam bem: eis a eixo do mal, eis a eixo do bem...”

O Papa Bento XVI
revela ao mundo o seu antigo caso com o antigo Papa.

No Maracanã,
João-de-Deus encarna em Tuta (atacante do Flu),
interrompe o clássico, chama os repórteres,
e reclama sua honra.

As notícias se exprimem nas primeiras páginas dos jornais...

- Algo no mundo está fora dos eixos!

E parece que a ONU (decididamente)
encontrou armas químicas em território semita
engenhosamente camufladas entre:

dois hambúrgueres,
alface,
queijo,
cebola e picles
num pão com gergelim.

terça-feira, 3 de maio de 2011

"Osama, o deus do mar..."


          Bin Laden caiu. Washington jura de pés juntos que o corpo fora lançado ao mar com todas honrarias que um cadáver islâmico tem direito: reza, lençol branco e posição correta de sepultamento, embora seja difícil fazer um corpo flutuante ficar com o crânio parado e apontado à Meca, mas isso é mero detalhe logístico que, ao menos agora, não vem ao caso.
O motivo de tão poético sepultamento é que ainda está um pouco obscuro, sendo o mais divulgado a intenção de se evitar um ponto geográfico de peregrinação islâmica para louvação de um mártir, aliado ao medo que os estadunidenses têm de que seja criado uma enorme escultura em homenagem ao messias e profeta anti-imperialista do mundo árabe.
Se foi essa a intenção verdadeira, desconfio que foi um sonoro tiro no pé! Quer coisa mais propícia ao nascimento de um deus - ou um santo aos moldes de Dom Sebastião  - do que um corpo desaparecido, jazendo em lugar incerto?
Ora, não será de se espantar se amanhã ou depois virmos a temível escultura espalhada por orlas anti-ianques com a viril figura de Osama usurpando qualquer deus do mar, Poseidon por exemplo.


(Osameidon)

            Agora é só fazer a conta... Qual a proporção de mar em relação à terra neste planeta? Haverá altar geográfico mais vigoroso a um profeta ou deus?
            Não precisamos forçar muito a imaginação para antevermos o que está por vir. Consagrado, imerso e enraizado na tradição, sincretismos exóticos e recorrentes poderão se espalhar como pandemia de fé: promessas, milagres, rosários, psicografias, cantigas e orações...
Centenas de anos serão suficientes para o mito se confundir com outros mitos e perder, de repente, até o caráter de gênero.
Todo final de ano na Praia Grande de Santos, imagens de Osama se misturarão com as de Iemanjá nos barquinhos perfumados com flores e pedidos  ao mar... Milhares de fiéis entoarão um ponto (cantiga para os umbandistas) conhecido por todos, gravado por padres e exotéricos de toda ordem - um canto de esperança, de muita força e poder, à Grande Mãe, à Padroeira e Patrocinadora da fé universal...

           “Osame ê, Osama á
            Osame ê, Osama á
É a Rainha do Mar...”

                                                           (Osamanjá)


segunda-feira, 2 de maio de 2011

"Foto-poema do Orgasmo (uma poção antiterrorismo)"


O 11 de setembro, dia dos meus vinte anos, fora marcado com a queda das torres gêmeas. Não por acaso, a queda de Bin Laden ocorreu hoje, 02 de maio,  quase dez anos depois, no dia dos trinta anos da minha Preta... Percebo que nossa  história se passou nesse percurso e hoje, enlaçados, o que essas datas me sugerem é que você, meu amor, sempre se encarregou de apagar as chamas dos meus ataques terroristas.

Parabéns por este dia!
A você este poema brotado do nosso fogo armado, de nossa redenção e poção antiterrorismo...

"Foto-poema do Orgasmo"

“À Rainha-mãe das borboletas”

Retenha toda luz
no teu glóbulo de rosa
líquido e borbulhante
qual bromélia luminosa
com dentes de agulha em brasa
as unhas cravadas
cintilantes
no músculo mais rijo
e latejante
e só por um segundo
não se mexa

Sinta o fluido fremente
duma gárgula em convulsão sob a pele
subir frenético do centro da Terra
rasgar os séculos adormecidos
na tua veia mais íntima
cair como estrela sangrando
na face trêmula
da noite

Dilacera-te
de ponta à ponta
num espasmo profundo e lento

Triture em mil tentáculos
toda a alma
das palavras proibidas
de todo
e por todo teu vocabulário mais sujo
e antes de gritar “Deus!”
congele este momento para sempre...

(clic)

Abra os olhos
e leia por dentro
a fusão mais tênue
e suicida de nós:

esta foto em leite,
e
   s
     c
       o
       r
     r
  e
   n
      d
           o
o mel do Mundo,
ungindo o ar.