Confiram a edição de Outubro do Jornal "Conteúdo Independente" (distribuição em Cotia, Vargem Grande Paulista e região, mais Butantã-São Paulo).
A edição desse mês vem com duas grandes novidades: novos integrantes, Léo Castelo Branco e Gustavo Arcaldi, responsáveis pelo humor ácido e crítico das "Tiradinhas" (pag. 2), e o novo colunista, e grande escritor e historiador, João Barcellos!
Leiam aqui a versão virtual e, mais abaixo, na íntegra, a crônica da minha coluna "Letra Envenenada" desse mês!
ANÔNIMO*
Não é por motivos outros, de efeito ou qualquer estilística, que vou me manter assim, anônimo, tão pouco sou bastante louco a ponto de revelar o nome do meu Jornal que há mais de dois anos constrói sua limpa e digna história aqui, na cidade de Tão-tão-distante, província que desde a sua fundação é reduto - para não dizer “feudo” - de broncos e ditadores coronéis... Aqui, no sertão longínquo e desconhecido do Estado da Paraíba, Tão-tão-distante se destaca por ser essa “terra-de-ninguém”, ou melhor, sabemos muito bem a quem pertence cada metro quadrado de sua caatinga.
Construí meu Jornal, alheio a todas as forças antagônicas e repressoras, com o único intuito de noticiar a verdade sem qualquer parcialidade, apenas a verdade dos fatos: a notícia em si e por si - e terá sido esse o meu maior “erro”... Nesta esquecida terra sempre foi tradição as notícias se revestirem das roupas que bem caem nos objetivos desses mesmos, dessa família e íntimos amigos que detém o poder desde o “sempre” por aqui... Digamos que das quatro mídias que noticiam, dois jornais (no qual o meu se inclui), uma rádio local e uma tevê (coligada a maior rede nacional), somente a minha se constitui “independente”, e isto também quer dizer “não ser posse desses mesmos”... Ah, confesso, “não dançar conforme a música” foi o que fez minha vida se tornar esse musical fúnebre, ou melhor, essa trilha de aventura hollywoodiana (ou de máfia italiana no melhor e consagrado estilo “O Poderoso Chefão”).
Nunca recebi qualquer “patrocínio” dos governantes de Tão-tão-distante. Por isso me boicotam, negam-me informações, mas isso foi só no começo... Nestes últimos meses o cerco fechou por completo: depois de cinco processos e um inexplicável atropelamento, um encontro “olho-a-olho” com um pistoleiro matador-de-aluguel me lesou a profunda artéria femoral e provocou-me uma parada cardíaca em plena mesa de cirurgia...
Mas sobrevivi... Agora estou aqui, nesse hospital, numa sala lotada em que me confundo com tantos outros desgraçados enfermos, com um Atestado de Óbito que minha família conseguiu forjar, por meio escusos, claro, mas foi a minha única saída... Estou morto. Provavelmente continuarei morto ao sair daqui, ao viver anonimamente em qualquer lugar (não há lugar em que os braços dessa gente não alcance!). Sim, estou morto, definitivamente morto! Morre-se quando se perde a liberdade de existir... Existir é ter a liberdade de pensar, de se expressar... Só peço a vocês que são de São Paulo - esse Estado tão grande, tão bom e civilizado! - que publiquem esta minha desencantada carta, e a isso serei muitíssimo grato... Aqui jaz um Brasil que não se conhece, que ninguém quer conhecer, mas se esta carta realmente chegar a vocês, poderão saber que Tão-tão-distante existe e pode está perto, até muito perto de vocês.
Anônimo
(Tão-tão-distante/PB)
*Este é um texto de ficção literária, qualquer semelhança com personagens ou fatos da realidade terá sido pura ou mera coincidência.
Delícia!
ResponderExcluirCoisa estranha. Não sou masoquista (pelo menos não muito...), mas gosto de ler coisas que doem... Mas com perícia expressa.