Para além do “certo” ou “errado” em intervir numa obra de
outrem (por que isto foi uma intervenção, não um “vandalismo", como querem
pregar), ficamos com a imagem emblemática deste bandeirante que, em si, retrata
muito bem o nosso tempo, seja nas artes, seja na cultura, seja nas
subjetividades.
Macular com delicadeza essa figura horrenda é, num
primeiro instante, provocá-la, abalar seu status irretocável dos livros de História;
num segundo instante, é abalar o já instável “gênero
masculino”, justamente neste Ser que representa um momento da história em que o
“masculino” e o “feminino” estavam fortemente apregoados, sobretudo pela religião, que visceralmente avalizava a figura patriarcal e viril dos “homens”,
facilmente reconhecido por qualquer homo sapiens do sexo masculino.
Com a dita revolução (em processo) sexual e feminista, os gêneros
se aproximaram um do outro, outros vêm surgindo, e a “transgeneridade” é um
fato social que, independentemente de querermos ou não a ela tapar o olhos, está
por aí, pipocando no nosso caldeirão antropológico.
Denúncia, ressignificação
antropológica, releitura e intervenção artística, tudo isso emoldura esta foto... Limparam a estátua, mas a imagem já é nossa,
e faço questão de lançá-la ao ventilador digital da nossa era e às antenas atentas
do (in)consciente coletivo!
("Monumento às Bandeiras" - Victor Brecheret)
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