terça-feira, 14 de agosto de 2012

A MÁQUINA DE ESCARROS


                                      (para Rubens G. Pesenti amassar)


fecundado pelo vento (ou por um cristo)
estive grávido de um verso abjeto
abortado no terceiro minuto.

não tive enjôo nem azia
nem náusea ou arrepio

somente uma afasia súbita
que fazia do conjunto
       
         {Mundo}

essa triste cifra pútrida

/ e o Nojo -

um nojo concreto
ao vê-lo sangrando
sobre meus pés.

quis enjaular num saco preto
e jogar aquela coisa horrenda
no (já transbordante)
lixo do banheiro;

quis lançá-lo na privada
e dar três, dez,
cem mil descargas;

quis correr e gritar
vomitar na sua face peluda
e chutá-lo pra bem longe -

chutá-lo e chutá-lo
e chutá-lo: chutei!

aquilo que parecia um grunhido
em secreções amareladas
era, imaginem, uma pergunta
(que mal pude compreender):

- o que você quer ser 
quando morrer?

ora, quando morrer?

o que quero ser
quando morrer?

se a pergunta era assim, concreta,
a resposta era só uma: poeta!

- poeta só há mesmo de ser, poeta,  
pra depois de morrer...

feito do lodo e do barro
fruto de uma máquina de escarros
eu era aquele verso refletido
e sua inteira parte da metade -

não era tão feio quanto a humanidade
nem tão belo como aquela flor;

nem cá, nem lá:
era o impreciso reverso
e o meio do caminho
(o que é nada);

eu era ali um feto escaldando fezes
sem forma e sem conteúdo
a me dizer que na boca do tempo
o mau hálito perfaz o destino

/ e que tinha um meio do caminho
que tinha um meio no caminho

da Pedra.


("POEMA-ABJETO" de Rubens G. Pesenti)

Mais trabalhos do Rubens no link: http://ru666.blogspot.com.br/


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