segunda-feira, 17 de junho de 2013

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS CUPINS


Perdão, amor,
mas hoje falarei de outras flores.

Elas crescem e despetalam
como cupins.

Elas se amontoam como cupins
e, como cupins, destroçam os móveis
por dentro.

Móveis do mundo, cupins das arábias, 
tortos,
meio sem jeito
de esmagar nas mãos,
de reter nas mãos,
de cegar com gás.

Há uma praça na Turquia
cheia deles, amor.

Como sementes ao vento
eles rosnam por toda a parte:

é um buquê de dor,
essas flores poderosas
que movimentam as massas.

Suspenda a cerveja,
o tempo do vinho passou:

é hora de vinagre e coquetel molotov,
mudança, dança muda,
filha de toda Revolução.

Toda Revolução, amor,
esmaga a poesia dos livros,
liberta a poesia dos livros que,
apátrida,  
indigente,
indecente,
volta a viver nas ruas.

Essa flor, amor,
perdão, é pra você.

E nos vemos na rua.



Manifestação de 15/06/2013 contra a Copa do Mundo e das Confederações em Brasília
(crédito da imagem: Ricardo Matsukawa / Terra) 


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