Na praça a edição de agosto do jornal "Conteúdo Independente": o jornal da mudança que só cresce!!!
Leia aqui a versão virtual! Mais abaixo, na íntegra, o "cronto" - ou a "côntica" - da minha coluna "Letra Envenenada" desse mês...
"PRISMA"
- Deus nos livre, amor, acho melhor pegarmos outra rua...
- Mas por que, benzinho?
- Tem um tipo muito estranho lá na frente... Nem é pela cor branquinha, ou o cabelo liso, dourado... É pela roupa, Deus me livre, muito engomada! Olhe só, terno, gravata, até graxa no sapato! Estou com medo, amor.
- Calma, não devemos julgá-lo assim... Se bem que o sujeito tem uma cara de empresário paulistano nato, criado nos Jardins!
- Ai, não fala isso, esse pessoal é católico, e você sabe bem como são todos!
- E o Estado que não faz nada! Cadê todos militares? Absurdo! Está na cara que ele é hetero, olhe o jeitão, deve também ter um daqueles relacionamentos monogâmicos, Deus-do-céu!, de repente até seja pai de família!
- Que horror! Também não duvido que tenha emprego formal e formação universitária... Ai, será que é doutor? Onde esse mundo vai parar?
- Meu pai - que o Pai o tenha - era quem estava certo: loiro quando não faz na entrada, borra na saída!
- Amor, amor, veja os óculos do tipo, ai, intelectual! Não me misturo com esse pessoal... E que maleta de couro é essa nas mãos?! Aposto que tem livros lá dentro... Que lástima!, cada moda que é difícil de entender... O que faremos?
- Não se desespere, meu bem... Se voltarmos, é capaz dele perceber e não sei o que possa acontecer... Vamos fingir naturalidade, vamos conversar... Isso, sorrindo e conversando como se nada estivesse acontecendo...
- Não largue a minha mão, por favor... Do que falamos? Ai, ai, está bem do seu lado...
- Disfarce, sorrindo e conversando... Olhando para mim... Fale qualquer coisa...
- Eu te amo, sempre te amarei.
- Está nas nossas costas, não olhe.
- Ai, nas nossas costas! Não me solte!
- ...
- ...
- Pronto, passou... Por que sua? Está tudo bem agora...
- Não ria.
- Você é linda quando fica nervosa, sabia?
- Pára com isso... Acha que o prejulgamos?
- Não sei. Pelo sim, pelo não, melhor termos cuidado.
- Bem que você disse que era pai de família, olhe lá, chegou a esposa com dois filhos! Não olhe assim, seja discreto.
- Esse bairro não é mais o mesmo. A continuar assim, vamos ter que nos mudar novamente.
- Fazer o que, amor? Vai ser melhor... Você viu o tipo dela? Típico de mulher erudita que, ai credo!, deve escutar aquela música de louco...
- Clássica?
- Isso... Não gosto dessa gente.