Você vai passar de carro
e pelo ar condicionado
não chegará
um átomo de odor da rua.
Mesmo que um indigente
e louco
e perebento
estique o lençol mofado
que lhe cobre o machucado
(na certeza delirante
de que presta um importante
serviço ausente),
e macule o vidro da frente
com sangue coagulado
e verdeadas secreções
de pus com água-ardente,
você não lhe dará o agrado
e sua mão ficará esticada
até o próximo sinal fechado.
Ainda que você se sinta mal
e busque no fundo da alma
uma explicação catártica
para o fato social que você
jamais se responsabilizará
ou encontre uma resposta mística
kármica ou econômica
que lhe convença de que cada um
tem o que busca, paga o que deve,
uma mão estará alçada,
o lençol, embolorado,
e um velho estará morrendo
como criança que já vai nascendo
louca,
indigente,
remelenta,
no corredor da Santa Casa
sem qualquer misericórdia.
triste e verdadeiro.
ResponderExcluirDelarte, seria sacanagem não dizer "Sem palavras!"
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