Ni
Brisant, 28, é natural de Acajutiba-BA. Em São Paulo desde 2004, Ni é um dos
idealizadores do "Sarau Sobrenome Liberdade" e do clube de leitura
divergente "Ninguém Lê". Educador, desenhista, revisor de diversas
obras literárias, escreve com sinceridade abrasiva e sutileza incomum. Também
conhecido como "Poeta Sentimento", destaca-se hoje como um dos mais
populares escritor independente da capital paulista.
Entreletra:
Mais que escritor e
agitador cultural, você se diz um “bahia”. O que é ser um “bahia” em São Paulo?
R: Bahia é a
mão (e o fio) que costura esse vestido de luxo chamado SP. Invisibilizado,
porém imprescindível.
É não pertencer.
Não caber bem em lugar algum. Por isso a constante urgência de moldar-se e insistir
na invenção de sua própria pátria.
Como artista
independente, você abriu e vem abrindo suas próprias portas. Fale o que é ser
“independente”, os prós, os contras, e a importância dos saraus para sua arte.
R: Gosto de pensar a
independência como a água que cai da chuva. Chega sem passar por filtros,
canos... intermediários.Conheço todo mundo que “trabalha” nos meus livros, do
revisor ao cara que faz a impressão. Por exemplo, o Marciano Ventura é meu
amigo e também o responsável pelos projetos gráficos. Quando penso em publicar
algo, não é pela grana que o convenço a abraçar a ideia; tem a ver com crença e
respeito mútuo. Não se usa esse tipo de argumento com grandes editoras,
entende? Óbvio que produzir arte desse jeito dá muito mais trabalho, mas também
dá uma alegria saber que é legítimo e honesto cada passo dado. Ser independente
não é estar só; é escolher com quem e por onde andar.O maior desafio é fazer
com que os livros cheguem às livrarias do mundão e possam ser degustados por
mais gente. Por outro lado, as redes sociais têm me “ajudado” nesse processo de
distribuição.Acabei criando uma relação sólida de respeito com os leitores
porque não procuro fãs; quero amigos, parceiros. Tanto é que Para Brisa (meu 2º
livro) foi parcialmente financiado por essas pessoas que acompanham meus textos
nos saraus, que são espaços/encontros nos quais tenho aprimorado minha escrita
e humanidade.
Seus textos transitam
entre a prosa e a poesia. Em qual gênero melhor se encontra? Para você, há uma
separação clara entre eles?
R: Embora utilize mais versos, na minha cabeça sou
prosador. Gosto de escrever para contar histórias e, no final das contas, não é
a forma que separa a prosa da poesia. Não vejo elementos que dissociem
seguramente um gênero do outro. No miolo tudo é verbo.
Se você tivesse mesmo seu
próprio dicionário, qual significado teria “morte”?
R: Derradeiro
mau exemplo
que se dá em
segredo de si mesmo.
O que acha do termo “novo cenário da poesia paulistana”? Você crê fazer parte de um novo movimento artístico/cultural unificado? Fale sobre.
O que acha do termo “novo cenário da poesia paulistana”? Você crê fazer parte de um novo movimento artístico/cultural unificado? Fale sobre.
R: Acho ultrapassado. Faço parte de um movimento
inédito, mas não unificado. Existem muitas coisas em comum entre os
saraus/escritores, mas os objetivos (na prática) divergem bastante. É natural
que existam contradições. Toda a diversidade encontrada por aqui acaba trazendo
ainda mais beleza e vigor ao movimento. Devo dizer que as experiências mais
profundas que vivi nos últimos anos aconteceram graças a esses terreiros
literários.
Para encerrar, diga
profundamente o que quiser.
R: Não vai chover. É só um caranguejo em forma de nuvem.
Dois breves textos do
autor:
A arte não me levou aonde eu queria,
A arte não me levou aonde eu queria,
mas fez do meu coração um lugar habitável.
***
Se você vive para ter pessoas
***
Se você vive para ter pessoas
aos seus pés,
jamais terá alguém
ao seu lado.
Bibliografia/Contatos:
Ni Brisant é autor dos livros “Tratado Sobre o Coração das Coisas Ditas” e “Para Brisa”. Com textos publicados nas antologias "Sobrenome Liberdade", "Menor Slam do Mundo", "O que Dizem os Umbigos", "Poetas do sarau Suburbano Convicto" e "Poetas Ambulantes".
Escreve no blog: http://nibrisant.blogspot.com.br/
E-mail: nibrisant@bol.com.br
(crédito da foto: Flávia Barros)
***
Nesses
poucos, mas anos de verdadeira amizade, tive algumas parcerias poéticas com o
Ni. Abaixo uma dessas e, logo após, uma homenagem que divulgo aqui em primeira
mão.
-ROTA DE UM ALVO A BORDO-
(W.Delarte e Ni
Brisant)
era flecha no mar,
na mira
afundou-se.
virou barco,
na terra
envergou-se.
cavou-se,
virou rio.
tocou o arco
e nunca mais ficou a ver
( ) ( ) ( )
vazios.
-QUANDO NI CHOROU-
Quando a Bahia e todos
orixás
abraçaram sua mãe na
sacola,
Ni não olhou pra trás:
carregou todos na sua
e chorou.
Quando São Paulo
lhe deu a face mais
cinza,
Ni pintou a outra
e também chorou.
Era choro de artista
e, você sabe,
artista mais sabe é
fingir;
mas quando sua filha
chorou no hospital
pela primeira vez,
Ni chorou como se fosse
o último na Terra:
era choro de alegria
essas coisas que Ni
escrevia
e poucos sabiam
entender.
Quando Ni levou
seu Coração pra passear
sua mãe chorou
e todos orixás
confirmaram:
Ori de pássaro
nasceu mesmo
pra voar
r
a
o
v
Agora,
quando Ni chora,
sua mãe é sua fauna,
sua filha é sua Flora,
e a passarinhada livre
sorri.
sorri.
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