quarta-feira, 24 de outubro de 2018

ALICE NO PAÍS DA FAMÍLIA DE BEM


- Oi, Alice, como você tá linda, boa pra ser estuprada hoje.
- Ai, para, fala isso só pra me agradar.
- Que nada, te estruparia aqui mesmo.
- Seu bobo, aqui não pode, estão olhando... E o caso do seu primo político, o quê que deu?
- Ah, a polícia invadiu sua casa e o executou ali mesmo. Bem feito, né. Caixa dois é coisa de bandido.
- Mas nem o torturaram?
- Claro que não, hoje não fazem mais isso. Imagina quanta pessoa deixou de morrer e só foi torturada. Esse foi o nosso erro do passado, né.
- Ah sim, perdiam muito tempo com essa história de tortura. Se é bandido, tem que matar logo.
- Como o caso do seu irmão... Foi um acidente, mas foi melhor assim, né.
- Pois é, todos já sabiam que ele tinha essas perversidades. Melhor um irmão hetero morto que um irmão gay vivo, né.
- Nem me fala, gosto nem de pensar nisso... Minha vizinha que se ferrou, sabe? Foi num tal quilombola aí e se envolveu com um cara que pesava umas 70 arrobas. Levou pra casa e nada. Nem pra procriar servia.
- Que horror! E o que ela fez com ele?
- Fez nada não, só o jogou pra fora e disse a verdade, que ele não prestava pra nada. Além da cor, que já não é boa, né.
- Ha ha ha, seu senso de humor é ótimo. Te amo.
- Fiquei sabendo que ele ficou muito mal e foi parar nas ruas. Um a menos naquela comunidade mimimi que só busca privilégios, né. Agora tá até recebendo ajuda do governo, o Bolsa Ração, mas não é custo nosso não, nem pensar, são doações dos restos de empresas alimentícias. Bom para os empresários que carregam nosso país nas costas, pois além de não gastarem com o descarte, ainda conseguem abatimentos no imposto com essa doação.
- Ainda bem que temos gente de bem, empresários e governos que se preocupam até com animais, né.
- Sim, Alice, demorou mas chegamos lá.





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