Para começar 2011, digo que finalmente encontrei um tempinho entre as festas (do tão movimentado e nostálgico 2010!) para assistir a sequência nº 2 do “Tropa de Elite” que, literalmente, está “bombando” nas nossas telonas. De cara, uma coisa salta aos olhos:
“Não é que o capitão envelheceu mesmo!” – grande maquiagem aliada a convincente interpretação de Wagner Moura, tudo nos faz crer que estamos a mais de uma década daquelas cenas que não saem da nossa cabeça; mas estaremos mesmo?
O filme parece flutuar entre a ficção e o documentário, e não há como romancear, sabemos que “vivemos” no coração dos fatos. A impressão que tive (e prometo não detalhar muito nem estragar a surpresa daqueles que não assistiram) é que como “filme” (narrativa, cenas, ritmo...) o primeiro supera o segundo, por outro lado, se estamos tão atrelados à “realidade histórica” do enredo, o segundo ganha em “valores políticos, humanos e democráticos”, fazendo nascer por inteiro este que já estão chamando de “o primeiro grande herói brasileiro”. Fatalmente esquecem do emblemático “Macunaíma”, mas, falando sério, este último não reflete as características de um povo, reflete, sim, o anseio deste, e não há como não vestir a pele do capitão e se deslumbrar com a ilusão de “potência” que essa catarse nos causa...
Eis o Nascimento do Capitão!!! Na verdade, Coronel, Sub-secretário, e não duvido que na sequência 7 ou 8 o veremos numa cadeira de segurança da ONU ao lado de um fictício ex-presidente ex-sindicalista... Se no primeiro “Tropa” o capitão era como o Super-man que mal desconfia da própria existência, reproduzindo tudo aquilo que fora programado como mais uma “peçinha burra do sistema”, no segundo (Aleluia!) ele tem um insight secular que o faz enxergar a si nesse dito “sistema” e ampliar, digamos, o “rol de culpados” da nossa endêmica tragédia de (in)segurança pública...
O que o Padilha consegue é no mínimo interessante: arranca risos de cenas de tortura e lágrimas de fogos cruzados; isso porque os personagens são incrivelmente “humanos” e se, ao menos para mim, a identificação com o herói no primeiro era de 30% versus 70% de antipatia, no segundo não há como não vestir 100% a farda e querer acabar na base da bala, like a Rambo, com todos os canalhas e corruptos do nosso varonil país...
Talvez seja isso, perde-se a estética da linguagem e a polêmica ambiguidade moral do herói para se ganhar em ética e aprofundamento investigativo, quase documental, tão inevitavelmente colado está à realidade...
O “sistema” de que tanto o filme fala não é, como pode parecer, um sistema econômico (capitalismo X socialismo), mas um “sistema de autoridade”, de “controle pela e para autoridade”, conceitos de Foucault que dá um gostinho “intelectual” ao filme que ao mesmo tempo beija e bate na cara da “intelectualidade humano-esquerdista”, afaga e exorciza os valores e atitudes da nossa histórica direita, enfim, longe do lugar comum e saborosamente provocador, o filme já pré-anuncia a sequência “nº 3” , e até que nossos problemas de civilidade estejam resolvidos, já prevemos que a saga não deve, talvez “não tenha o direito”, de ser só uma trilogia.
É isso aí, Meu Escritor....
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