(em memória do mel, da lua e do mar de Pernambuco)
O seios de Iemanjá rebentam.
O leite que a onda traz
é o sangue quente do mar.
O leite derrete na veia,
o sangue espuma na areia,
transborda a retina
e contorna por cima do Olho
a orla da grande esmeralda:
todo o mar é o olho aberto de Oxalá.
E lá vem o vento,
corroendo a pedra,
redesenhando os cílios infinitamente;
lá vem, lá vem,
os lábios de Oyá criam desvios no tempo.
Oxum desce a montanha,
ourando de verde a cabeleira de Odé,
arrefecendo as espinhas de Xangô,
abraçando e recolhendo,
no pé,
água e sal para o Mundo gerar.
Olhe, Ogum também vem no ar!
Ogum corre sobre o mar,
Ogum vem cortando o mar
no ar...
- Com a licença , com a licença...
Na primeira eu deixo o remorso,
embrulho tudo o que posso
entre o desprezo e o rancor.
Na segunda descarto o cansaço,
enrolo a preguiça num laço
e mergulho mais fundo na dor.
- Que a dor é sim, minha Mãe,
o que trago de mais sincero,
sem reservas, sem mistério,
é quase tudo de mim.
Na terceira lanço o engano,
junto três tiras de pano,
amarro o erro e a deixo o levar.
Na quarta canto “Odoyá!”
levemente o medo passa
- Oh, leve o medo, lave no mar...
Na quinta eu peço Amor,
a lembrança do que passou
e do mínimo que ficará.
- Que Amor, minha Mãe, é assim:
parece nunca ter fim,
mas se finda, o que lembrar?
Na sexta eu rogo saúde
pra mais viver sem me matar...
Na sétima onda, oh sim,
nessa eu vou me banhar!
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